segunda-feira, 7 de julho de 2014

Por que as dietas e os projetos fracassam?

Vejamos o que se tem dito e escrito sobre por que os projetos falham. Seria porque as pessoas são estúpidas. Sim, bem lá no início isso foi dito, mas de outra forma, um pouco mais amena. Os projetos falham porque as pessoas nele envolvidas não fazem a coisa certa, não planejam e são incompetentes na sua execução. Seria somente por isso? Eu tenho cá minhas dúvidas.

Sim, os projetos falhavam antes, e ainda falham agora, mas nem tudo são, e eram antes, somente espinhos. Haviam equipes e empresas que trabalhavam bem e, mesmo em épocas passadas, lá atrás, antes do surgimento do PMI (Project Management Institute) e de seu PMBOK (Project Management Body of Knowledge Guide), conseguiam alcançar os objetivos pré-definidos para seus projetos. Portanto, valia a pena pesquisar o que essas pessoas faziam de certo ou, em outras palavras, verificar se haviam lições a serem aprendidas com elas. Isso foi feito e, mesmo assim, essa ação – de seguir práticas de administração de projetos reconhecidamente bem sucedidas - não garantiu o sucesso de todos os projetos, havendo ainda muitas situações de fracasso. Bem, dito isso, esse é um bom momento para fazermos uma analogia com as dietas.
Nada captura tão bem a habilidade do ser humano de ignorar o bom senso, fazendo as coisas sempre da mesma forma e, mesmo assim, esperando por um resultado diferente. Uma viagem rápida pela Internet mostrará uma enorme quantidade de programas de dieta, todas prometendo resultados rápidos e duradouros. Nos EUA, as pessoas que desejam emagrecer gastam em torno de US$45 bilhões por ano com esses programas. É muito dinheiro! Quanta comida poderia ser comprada com esse dinheiro para alimentar os famintos no nosso planeta? Bem, existe uma máxima muito conhecida que orienta muitos programas de emagrecimento: “Coma menos e se mova mais!” Uma ideia que pode ser simples e que faz todo o sentido, mas não é nada fácil de implementar. Para emagrecer um indivíduo deve fazer exercícios físicos e comer menos. Aí entram as variações sobre os tipos de alimentos, como devem ser ingeridos, etc e tal e, também, as melhores séries de exercícios para tonificar e, como o pessoal adora dizer atualmente, secar a barriga e outras áreas do corpo humano. Tudo em nome da beleza, da boa aparência e, por que não dizer também, da boa saúde. Tudo parece muito óbvio, mas como todos nós sabemos, isso costuma não funcionar. Não funciona porque essa afirmação simples e direta, cheia de bom senso, requer algo muito difícil para a maioria das pessoas: mudar seus hábitos. Demorou muito tempo para nos transformarmos no que somos hoje. A sociedade em que vivemos não nos incentiva a fazer dieta, havendo uma enorme oferta de alimentos. Se você tem dinheiro, pode comer à vontade. Não precisa mais caminhar longas distâncias para colher frutas, pescar e caçar, como faziam nossos antepassados, lembrando que isso ajudava a queimar muitas calorias. Quando foi a última vez que você precisou correr para escapar de um predador? É claro que esse tipo de situação já não existe mais nos nossos tempos mais do que modernos. Vivemos num modelo social muito diferente. Não somos mais animais tentando sobreviver. Somos consumidores. Basta passear por entre as prateleiras dos supermercados e escolher. Uma mudança para viver de verdade a filosofia do “coma menos e se mova mais” passa por uma séria mudança no nosso estilo de vida.

Mas o que tudo isso tem a ver com o gerenciamento de projetos? A história recente do gerenciamento de projetos traz alguns marcos muito interessantes que vamos aqui pontuar. Nessa história notamos a busca pela chamada “bala de prata”, que seria aquilo que – se usado corretamente – faria um projeto ser barato, acontecer rapidamente e facilmente. Nos anos 1980 essa “bala de prata” eram os softwares de gerenciamento de projetos. Em pouco tempo notou-se que não era bem assim e no final dos anos 1980 a tal “bala de prata” passou a ser as metodologias de projeto. Essa crença durou algum tempo apenas e em meados dos anos 1990 entraram em moda as certificações. Mais recentemente surgiram as metodologias “Agile”, incluindo, por exemplo, o Scrum. Também ganhou importância a implantação nas organizações dos chamados escritórios de gerenciamento de projetos ou PMOs (Project Management Office). Longe de mim dizer que cada uma dessas “balas de prata” não tem valor. Ao contrário, são muito valiosas se utilizadas com harmonia.  E aqui entra a semelhança entre o gerenciamento de projetos e os programas de dieta: ambos precisam de mudanças nos indivíduos que estão envolvidos e no ambiente onde acontecem.
Se os projetos acontecem nas organizações, a questão que se coloca é a seguinte: - O que deve ser mudado nas mesmas para criar um ambiente facilitador para os projetos? Estamos falando de mudanças na conduta das pessoas na empresa, fortes o suficiente para que as mesmas não apenas falem que entendem que os projetos são importantes, mas hajam de acordo. Além de todas as chamadas “balas de prata” já mencionadas, precisamos de muito mais. Algo que faça o gerente funcional liberar seus recursos para o projeto de bom grado, sem as intermináveis discussões sobre as “carências de pessoal na minha área” e acusações de que o gerente de projetos está “roubando meus recursos humanos”. Uma mudança que torne a alocação de recursos financeiros para o projeto algo normal e natural e não alguma coisa dolorosa e difícil, que muitas vezes vem acompanhada de palavras de desconfiança como “olha, esse dinheiro é suficiente para comprar muitos quilos de matéria prima, portanto, não desperdice”. Como se o projeto fosse um desperdício menos importante e não algo que foi decidido fazer pela própria direção da empresa. Além de tudo isso, quantas vezes o projeto se vê em apuros quando simplesmente, algum diretor decide, assim do nada, sem mais nem menos, não cumprir o que foi prometido, resultando na perda de alguma coisa para o projeto. O resultado é que aquele funcionário que viria trabalhar no projeto, não poderá mais vir. Ou aquela área que seria destinada à atividades do projeto, não poderá mais ser usada. Ou aquele dinheiro que seria gasto em alguma coisa para o projeto, agora será gasto em outra coisa qualquer diferente do nosso projeto. Isso detona um projeto, por melhor que seja o gerente do mesmo. Esse é o tipo de comportamento que acontece ainda em muitas organizações que só entendem que os projetos são importantes da boca pra fora. Na prática o que importa são as operações, apenas!  É óbvio que as operações da empresa são importantes, mas os projetos também. Sem eles, não são implementadas as mudanças tão necessárias, pois é através dos projetos que o novo é implantado. Sim, é de uma mudança na cultura da empresa que os projetos necessitam. Uma mudança na mentalidade, na forma de encarar e reagir aos projetos, uma mudança de comportamento, um verdadeiro amadurecimento. Além das “balas de prata” anteriormente mencionadas, é exatamente isso que os projetos necessitam para ser bem sucedidos, dito de forma direta e simples. Para ser bem sucedidos os projetos precisam também de uma mudança na cultura da empresa. Mas, isso que é simples de dizer e até de entender, não é nada fácil de fazer.

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