terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Sobre os Gastos Diretos e Indiretos

No post anterior (“Classificação de Custos e Despesas”) foram revistos os conceitos de gastos, custos e despesas, cuja apuração contábil é necessária, tanto nas operações rotineiras do dia-a-dia, quanto nos projetos executados pela empresa.  Vimos que a melhor maneira de saber se um gasto deve ser classificado como um custo ou uma despesa é perguntar para que/como esse gasto será usado. Para fixar os conceitos estudados, foi apresentado um quadro com exemplos de classificação de gastos (em custos ou despesas).
A classificação de gastos (em custos e despesas) possui um segundo complicador que se refere a identificar se esses gastos são diretos ou indiretos. Esse será, exatamente, o objeto do presente post.

Para saber se um gasto é direto ou indireto é necessário, em primeiro lugar, conhecer o conceito de rateio. Para simplificar a apresentação desse conceito, vamos supor que uma empresa possua duas linhas de produção para fabricar os produtos A e B. Atuando como um supervisor da produção, a empresa conta com um funcionário experiente e treinado, que coordena o pessoal do chão de fábrica, que são os operadores das máquinas nas linhas de produção existentes. Esse pessoal (= os operadores) é mão de obra direta e o valor de seus salários mais encargos são classificados como custos diretos. Os 100% dos salários mais encargos dos operários que trabalham na linha de produção A farão parte unicamente dos custos do produto A. Por sua vez, os 100% dos salários mais encargos dos operários que trabalham na linha de produção B farão parte unicamente dos custos do produto B.

Podemos afirmar que o gasto direto oferece a oportunidade de alocação direta ao produto ou serviço que está sendo produzido.

No nosso exemplo, a soma dos salários mais encargos sociais do supervisor da produção totaliza R$4.600,00. A empresa fabrica regularmente, a cada mês, 200 produtos A e 600 produtos B. Os produtos A são mais complexos e demoram 3 vezes mais tempo para serem produzidos do que os produtos B. Mesmo assim, o supervisor da fábrica dedica 50% de seu tempo para cada linha de produção.

O que precisamos saber é o valor que deve ser considerado na composição de custos unitários mensais dos produtos A e B referente ao supervisor da fábrica? Certamente, o salário mais os encargos sociais do supervisor da fábrica devem ser classificados como um custo (e não uma despesa), pois o supervisor trabalha na produção dos produtos. Entretanto, ele não é como os operadores das linhas de produção, que são mão de obra direta. Para o supervisor do nosso exemplo, metade do valor deve ser alocado para o produto A e metade para produto B, pois o supervisor dedica metade das horas trabalhadas por ele na empresa, em um período de um mês, na produção de cada linha. O custo mensal unitário referente ao supervisor para o produto A será igual a ($4.600 ÷ 2) / 200, ou $11,5 (onze reais e cinquenta centavos). Por sua vez, o custo mensal unitário referente ao supervisor para o produto B será igual a ($4.600 ÷ 2) / 600, ou $3,833 (três reais e oitocentos e trinta e três centavos).

O que mostramos no exemplo acima foi uma forma de rateio do valor total do salário mais encargos do supervisor da fábrica, entre os produtos fabricados na empresa, com a finalidade de calcular as parcelas de custo para cada item produzido. Para isso foi escolhido o critério de rateio do “total de horas trabalhadas em cada linha de produção” ( que no nosso exemplo foi de 50% do tempo para cada linha). O critério de rateio distribui um valor total conhecido em partes proporcionais, conforme fica estabelecido no mesmo.

Se o critério de rateio fosse diferente, teríamos outros valores na distribuição dos custos. Assim sendo, vamos supor que o diretor industrial conseguiu identificar que o supervisor da fábrica trabalha 60% do seu tempo na linha de produção B e, em consequência, somente 40% do tempo na linha de produção A. Se, com base nessa descoberta, ele decidisse mudar o critério de rateio, como seria o cálculo da distribuição de custos referente ao salário mais encargos do supervisor?

Para o produto A: ($4.600 x 40/100) / 200 = $9,20
Para o produto B: ($4.600 x 60/100) / 600 =  $4,60

Podemos afirmar que o gasto indireto não oferece a oportunidade de alocação direta ao produto ou serviço que está sendo produzido. Sendo assim, é necessário fazer o rateio! Embora sejam arbitrários – definidos pela direção da empresa, com suporte da área contábil – os critérios de rateio devem ser estabelecidos da forma mais coerente possível.
Vejamos agora um exemplo que pode ajudar a fixar melhor esses conceitos.

 
Como pode ser visto no exemplo acima, a maior parte das despesas é indireta, uma vez que precisam ser rateadas.
Se, por outro lado, tivéssemos previsto no planejamento do projeto que o diretor comercial e o diretor financeiro da empresa participariam de determinadas reuniões com o cliente/comprador, para apresentar a conclusão de entregas importantes, como poderíamos classificar esses gastos? Para que não haja dúvidas aqui, o que estamos dizendo é que essas apresentações seriam feitas, de fato, pelo gerente de projetos, mas esses diretores estariam presentes nas reuniões. Em primeiro lugar, esses gastos – com passagens aéreas, taxis, alimentação e diárias de hotel - seriam despesas, uma vez que a participação dos membros da diretoria não afetaria o andamento do projeto, muito menos teria impactos na execução das atividades do projeto, ou das decisões tomadas nessas reuniões. Além disso, seriam despesas diretas, pois o valor total as mesmas seria alocado no projeto, sem a necessidade de qualquer tipo de rateio.

Se um dos diretores, ou mesmo ambos, não pudesse comparecer, nada de pratico mudaria, pois afinal, o gerente de projetos teria toda a informação necessária para representar a empresa executora nessas reuniões.  A participação dos diretores, funciona como uma mensagem do tipo “eu valorizo você como meu cliente”, tendo o objetivo de mostrar que a empresa executora do projeto (fornecedor) dá a devida importância ao cliente/comprador e, por conta disso, faz questão de que seu pessoal mais graduado esteja envolvido no projeto.
A necessidade das empresas de classificar os gastos em custos e despesas (diretas e indiretas) está ligada a uma obrigação legal de apresentação de seus resultados, feito através da DRE (Declaração de Resultados do Exercício). O objetivo da DRE é fornecer aos usuários das demonstrações financeiras da empresa os dados básicos e essenciais da formação do resultado do exercício (lucro ou prejuízo).

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