segunda-feira, 3 de junho de 2013

Odeio Gente

“O trabalhador não sofre de estafa só por ter trabalhado em excesso – ele se esgota por causa das pessoas”. Essa é uma das frases do capitulo de introdução de Odeio Gente, um livro sobre o relacionamento humano no ambiente de trabalho. A ideia básica dos autores Jonathan Littman e Marc Hershon é que há uma crise na relação entre colaboradores nas organizações que provoca muito stress por causa de certos comportamentos das pessoas, que acaba gerando ineficiência operacional e que atrapalha o alcance dos objetivos. Os autores denominam o bom colaborador, aquele que é talentoso, deseja fazer bem o seu trabalho e ser produtivo, como o Solista. O Solista deve buscar conhecer outros Solistas na organização em que trabalha e formar grupos pequenos de trabalho. Os bons - que seriam os Solistas - devem se juntar para produzir um bom trabalho. Esse grupo de Solistas é chamado pelos autores de Conjunto.

Os autores não acreditam que o trabalho em equipe com grupos grandes, como acontece em muitos projetos, possa funcionar bem e de forma eficiente. “Pense no Solista como um primeiro violino de orquestra. Ele toca os solos da orquestra que foram escritos para seu instrumento, estabelecendo o estilo e o tom para sua seção, e a lidera ao estabelecer padrões elevados de beleza, exatidão e confiabilidade rítmica. Ou seja, o Solista se encaixa sem atrito num grupo, tocando com destreza nesse grupo, ao mesmo tempo em que, muitas vezes, conduz ou acompanha outros participantes. Ao lado disso, quando é momento de se apresentar sozinho, o Solista se supera, levando o Conjunto a novos níveis, enquanto demonstra habilidades e talentos inspiradores”.
Os autores vão ainda mais longe: “O Solista busca um plano mais elevado. Adaptando-se aos tipos de gente que todos odiamos, está mais capacitado a lidar com o festival de pepinos da semana – o boçal vizinho da baia, o cliente insuportável, o chefe enlouquecedor. Os Solistas reconhecem duas classes de pessoas: as que eles odeiam e as que eles conseguem aturar, apreciar e amar”.

Sem a menor cerimônia e com bastante arrogância, os autores definem os seis princípios do Solista, que são os seguintes:
·         Separação do grupo não é rejeição ao grupo;

·         O sucesso nem sempre traz popularidade;

·         A mudança é fácil; o que dói é a expectativa de mudança;

·         O gênio não bate relógio de ponto;

·         Eu tenho importância.

Bem, acho que já deu para perceber onde os senhores Littman e Hershon desejam chegar, criando uma categoria especial de pessoas superiores. Exagero ou não, os autores acreditam que os tais Solistas são muito importantes para todos os tipos de organização, uma vez que são eles que fazem a diferença. 
A ideia do Solista trabalhando com seu Conjunto, encontrando o seu equilíbrio e as pessoas que fazem o trabalho valer a pena, está em contraposição com a imagem do Solista tendo que aturar todas as outras pessoas na organização (os não talentosos, improdutivos, chatos de galocha, e outros adjetivos desqualificadores) que os autores afirmam que o Solista odeia. E parece que, segundo os senhores Littman e Hershon, as organizações estão cheias desse "tipo de gente". Esses tais odiados são chamados de “Os Dez Indesejáveis”, gente que os Solistas precisam aprender a identificar e, principalmente, neutralizar. Vamos, a seguir, apresentar as características principais de cada um deles:

O Sinal Fechado – aquele que se mostra contrário a uma ideia promissora e falha no seu julgamento. A pessoa que sempre diz que não podemos fazer certa coisa. O fundador da DEC (Digital Equipment Corporation) que anunciou em 1977 que “não há razão para alguém querer computador em casa”, ou o professor da Universidade de Yale, que preveniu o fundador da Federal Express que “o desenvolvimento de um serviço de entrega expressa não parecia viável”, são exemplos clássicos de pessoas do tipo Sinal Fechado.

O Oportunista – nas palavras dos autores, o Oportunista é aquele cheio de malandragem, que conta uma história para envolver alguém (de preferência um Solista) nos planos dele. “Tem um projeto que precisa que alguém execute; coisa fácil, ele garante; só é preciso ir a algumas reuniões com o cliente. Como você sabe que está lidando com um Oportunista? Ele quer que você assuma o compromisso. Que antecipe o prazo de entrega. Que dobre o conjunto de características. Que ofereça uma extensão dos serviços. E não fornece detalhes. Por quê? Porque tem muitas características em comum com seu primo criminoso, o estelionatário – mas a moeda que usa é o tempo e a produtividade dos outros”.

O Trator – são aqueles indivíduos que no ambiente de trabalho costumam pisotear as pessoas. Muitos se enquadram no grupo considerado como autores de assédio moral no trabalho. Um Trator é alguém que critica agressivamente as ideias de outra pessoa.  Nem sempre é possível minimizar as interações com um Trator, especialmente se ele está em uma posição de chefia. Os Tratores precisam ser enfrentados e, geralmente, as coisas pioram antes de melhorarem.

O Sorridente – são pessoas muito perigosas, devido ao seu comportamento mais sutil.  Muitas vezes quando no local de trabalho um indivíduo se aproximar com um sorriso aberto no rosto, é muito provável que ele traga escondida na manga uma surpresa desagradável. Como o Sorridente sorri praticamente o tempo todo, ninguém imagina o que ele está pensando. Num sorriso autêntico as sobrancelhas e a pele entre a pálpebra e a sobrancelha se abaixam ligeiramente. Se isso não acontecer, muito cuidado: pode ser um sorriso falso.

O Completo Mentiroso – estudos apontam que no ambiente de trabalho as pessoas mentem em relação a resultados, desempenho, conquistas, valores e motivos. Uma das razões pelas quais o local de trabalho cria Completos Mentirosos é a facilidade que oferece à montagem de pequenas mentiras. Alguns exemplos:  “- Eu nunca recebi o e-mail” (mentira, ele recebeu e está negando agora) ou “- Você não recebeu minha mensagem no correio de voz? (mentira, ele nunca enviou tal mensagem). O Completo Mentiroso quer se livrar da responsabilidade. Se as pessoas não se cuidarem para neutralizar os Completos Mentirosos, eles continuarão fazendo seu número de hipocrisia até a hora de sair porta afora e desaparecer, sem nunca ter sido responsabilizados.

O Punhal – é traiçoeiro, e seus movimentos são difíceis de prever. Você talvez o julgue um amigo, mas acaba descobrindo que alguma coisa o fez voltar-se contra você. O Punhal pode lhe danificar a imagem, a reputação ou o ego. A lâmina pode ser introduzida sutilmente, ao longo de semanas ou meses, ou enfiada abruptamente, movida por uma súbita raiva ou em reação ao que ele percebeu como uma desfeita. A única certeza é que o ataque é imprevisível. É necessário identificar o Punhal e o que fazer a respeito antes que ele ataque. Um sujeito que fala mal dos outros colegas para você e de você para os outros colegas, na sua ausência, é um Punhal típico.

O Homem-minuto – é aquela pessoa com perguntas intermináveis. Ele é extremamente perigoso, porque pega você antes que você perceba. É um especialista em arrancar fatias cada vez maiores de seu tempo. Tudo que deseja é um minuto de seu tempo. E mais um minuto ... e depois mais um minuto ... e se você não se cuidar, vai acabar sem ter um minuto de sobra para si mesmo.

O Não-sabe-nada – são pessoas que, geralmente, possuem um monte de fatos, de números e de conhecimento obscuro, na maior parte totalmente equivocado. São os fanfarrões do escritório. Sendo mal preparados para distinguir o certo do errado, para filtrar o bom do ruim, no meio da enorme quantidade de informação obtida através da Internet, os Não-sabe-nada acabam recheando suas cabeças de bobagens.

 O Planilha – são os indivíduos fanáticos por regulamentos. Eles corrompem o mundo inteiro com seu sentido exagerado do regulamento, ao mesmo tempo removendo toda a graça e energia de qualquer empreendimento. Um exemplo: “- São aquelas pessoas que controlam cada passo do trabalho até matar você de tédio”.

O Carneiro – o pensamento dos Carneiros é uniforme; eles se movem e resistem do mesmo jeito. Sentem-se cômodos em sua mentalidade de rebanho. O Solista pensa diferente, além de ser, com frequência, seu próprio líder. Todavia, o Solista não pode deixar o Carneiro sumariamente para lá. Se o Solista não se entender bem com os Carneiros, poderá ser pisoteado por eles, em seu esforço de manter suas próprias rotinas. O Carneiro pode até ser capaz de pensar por si mesmo, mas a rotina diária, o trabalho duro do dia-a-dia acabam por derrotá-lo. O Carneiro prefere manter o curso e caminhar por rotas previamente definidas. E, obviamente, os Carneiros não gostam de mudanças.

 Quando procurar identificar os perfis traçados nos Dez Indesejáveis na sua empresa, poderá descobrir que entre as piores ameaças estão os polivalentes – homens e mulheres que combinam dois ou mais arquétipos. Os autores afirmam que a luta contra os Dez Indesejáveis é um trabalho para a vida inteira. À medida que o Solista for subindo na hierarquia da profissão que escolheu, sua habilidade em confrontar os arquétipos o ajudará a reduzir a contrariedade e aumentar as oportunidades de se tornar uma pessoa mais independente e criativa – “a essência da filosofia de Ódio às Pessoas”. O livro sugere e recomenda várias técnicas para lidar com os Dez Indesejáveis e talvez, essa seja uma boa razão para a sua leitura.

Referência: LITTMAN J. e HERSHON M. Odeio Gente! Rio de Janeiro: Best Seller, 2012.

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